O erro no processo de aquisição da linguagem escrita

 

A alfabetização é um momento mágico, repleto de descobertas e emoções. As primeiras produções de texto espontâneas são repletas de encantamento e sentimentos.

Escrever é um marco na vida das crianças e uma felicidade para os pais. É lindo ver a criança dar significado àqueles traços em forma de letras que, até pouco tempo, eram algumas garatujas.

A escrita proporciona uma sensação indescritível de alegria, conquista e autonomia. É uma forma diferente de se comunicar e um passaporte para uma maravilhosa viagem para explorar ainda mais o mundo do conhecimento.

Neste momento de decodificação dos códigos linguísticos e elaboração de hipóteses sobre a grafia das palavras é natural que surja a preocupação com o “erro”, tanto por parte dos familiares e educadores, quanto da própria criança.

Pensando o conceito de alfabetização à luz das pesquisas realizadas por Ana Teberosky e Emília Ferreiro(1979), podemos compreender um pouco mais esse processo.

Para as autoras, a alfabetização não deve ser compreendida como habilidade de aquisição e manipulação do código escrito, porque implica num processo cognitivo complexo, constituído pela criança.

A alfabetização vai além da decodificação de sons e letras. Não é somente ler e escrever os signos do alfabeto. A criança começa a entender como funciona a estrutura da língua.

Para Ferreiro (2004), cada educando tem o seu tempo de aprender.

Com os dados oriundos de suas pesquisas, realizadas ao longo dos últimos anos, Emília Ferreiro trouxe importantes contribuições para as reflexões sobre a intervenção educativa alfabetizadora, pois deslocou o foco da investigação do “como se ensina” para o “como se aprende.”

De acordo com a autora, a apropriação da escrita se apoia em hipóteses do aprendiz, baseadas em conhecimentos prévios, assimilações e generalizações. Tais hipóteses oferecem informações relevantes sobre níveis ou etapas psicogenéticas no processo de alfabetização: a) hipótese pré-silábica – o aprendiz ainda não compreende que a escrita representa os sons das palavras que falamos; b) hipótese silábica – o aprendiz percebe os sons das sílabas como segmentos da palavra a ser escrita, mas supõe que apenas uma letra pode representá-las graficamente, podendo ou não ter o valor sonoro convencional; c) hipótese silábico-alfabética – o aprendiz se encontra em transição entre níveis psicogenéticos e tanto pode representar sílabas completas como representações parciais da sílaba por uma só letra; ) hipótese alfabética – o aprendiz compreende o princípio alfabético, percebendo unidades menores do que as sílabas, os fonemas, e, gradualmente, domina suas correspondências com os grafemas.

Teberosky (1985) destaca que o trabalho com as crianças em fase de alfabetização não ignore a capacidade de elaboração e reelaboração do processo da lecto-escrita, isto significa que não somente a sua bagagem epistemológica deve ser repensada e reelaborada, mas que, juntamente com esse primeiro passo, suas intervenções no processo de ensino-aprendizagem.

O fracasso ou o sucesso da alfabetização depende de entender o nível de evolução conceitual da criança. É imprescindível que o professor se aproxime dos caminhos que ela percorre, para estabelecer e entender o processo de construção do sistema, compreendendo que o erro faz parte dele e que, antes de corrigi-lo, precisa auxiliar no desenvolvimento de outras habilidades que ajudarão nesta construção, tais como: a consciência fonológica, a organização do pensamento e a imaginação.

 

 

Referências bibliográficas

 

FERREIRO, Emilia e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre, Artes Médicas, 1985.

FERREIRO, Emilia. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo, Cortez, 1985

FERREIRO, Emilia. Com todas as letras. 12. ed. São Paulo: cortez, 2004.

Renata Scoponi

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