Quando ela vai ler? Expectativas, anseios e dificuldades no processo de aquisição da leitura e da escrita
O primeiro dia de aula chegou! Ano da alfabetização! “Acabou a brincadeira.” – dizia o papai. “Agora você vai ler e escrever…” – explicava a mamãe. Logo na entrada, um coleguinha de turma sorria e exclamava: “Agora não sou mais bebê, já sou da sala dos alunos grandes!”
Ao ingressar na classe de alfabetização, a criança carrega em sua mochila muito mais que livros, cadernos, lápis e borracha. Lá, encontramos os desejos e as expectativas da família; da professora, que chega repleta de ideias e novidades; da coordenadora e da diretora da escola, que esperam que, neste ano, todos sejam alfabetizados no tempo certo, e da sociedade, pois, ao aprender a ler, um novo mundo de possibilidades se abrirá.
Além disso, a criança precisará lidar com seus próprios anseios, pois este é um período de transformação, visto como um rito de passagem da Educação Infantil, onde o lúdico faz parte do cotidiano, para o Ensino Fundamental. Para muitos, é a hora de sentar-se, prestar atenção na professora e fazer os trabalhos.
Pensando cada aprendiz como um ser único e integral, sabemos que nem todos aprenderão com o mesmo método e ao mesmo tempo e que dificuldades poderão surgir ao longo do processo de aquisição da leitura e da escrita.
Muitas crianças em fase escolar apresentam dificuldades, que podem surgir por diversos motivos como problemas na proposta pedagógica, a didática do professor, problemas familiares ou déficits cognitivos, entre outros. A presença de uma dificuldade de aprendizagem não implica necessariamente em um transtorno.
É neste momento, que todos os envolvidos na alfabetização da criança começam a se questionar: Quando ela vai ler?
Em geral, faz parte do instinto da criança a busca pelo aprendizado, o conhecer e o executar novas atividades. Quando este interesse parece não existir, isso pode ser um sinal de que algo não está bem. Desta forma, existe a necessidade de uma observação mais minuciosa, a fim de detectar os fatores que estão comprometendo o interesse e o aprendizado desta criança.
Geralmente, a dificuldade de aprendizagem é causada por algum acontecimento ou situação frustrante, como a mudança de escola, troca de professor, chegada de um irmão, óbito de um familiar próximo, desentendimentos familiares, separação dos pais ou até mesmo as expectativas geradas em relação ao desenvolvimento cognitivo, de modo que se torna necessário pesquisar os motivos que influenciam, negativamente, o desempenho da criança.
Quando as dificuldades de aprendizagem são persistentes e acompanham o histórico da criança por muito tempo, sem motivos evidentes e em várias áreas do conhecimento, é provável que esta tenha um transtorno de aprendizagem, onde existe um comprometimento de ordem neurológica.
Normalmente, esses transtornos de aprendizagem são percebidos apenas no Ensino Fundamental, contudo, se o professor e os pais tiverem um olhar mais crítico ao observar os sinais demonstrados pela criança, estes transtornos podem ser detectados logo no início, permitindo, assim, que ela receba o tratamento adequado.
Dentre os transtornos que podem ocasionar dificuldades no processo de alfabetização podemos citar a dislexia, a dislalia, a disgrafia, a disortografia, a dispraxia e o TDAH.
O mais importante é saber que, diante de um aluno que apresente dificuldade de aprendizagem ou transtorno de aprendizagem, é preciso buscar melhoria da atitude do educador no primeiro caso ou um acompanhamento de um especialista, quando se tratar de um transtorno de aprendizagem.
Retomando a nossa pergunta inicial, concluímos que a criança irá ler em seu tempo, quando conseguir superar os obstáculos emocionais, cognitivos ou pedagógicos existentes em seu processo de aprendizagem. A partir de uma intervenção pedagógica eficiente, realizada junto à família, à instituição escolar e aos demais profissionais que a acompanham, tais como: fonoaudiólogos, psicólogos, pediatras, entre outros, o aprendente desenvolverá as habilidades cognitivas necessárias para a aquisição da leitura e da escrita.
Toda criança é capaz de aprender a ler e a escrever, desde que lhe sejam dadas as condições e o tempo para que isso se efetive.
Referência bibliográfica
PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Trad. Ana Maria Netto Machado. Porto Alegre: Artmed; 1985.